“Participo do Ironman desde 2005 e após seis participações seguidas, fiquei de fora em 2010. Fiquei com aquela sensação de vazio, vendo a galera treinando e eu de fora. Então resolvi me testar em provas diferentes. Me inscrevi para Maratona do Rio, triathlon do XTERRA e Ultramaratona 24hs em setembro. Até então a única novidade seria a ultramaratona, que nunca fiz.
De repente o Bernardo Fonseca anunciou os 50km no mesmo dia do XTERRA. Na mesma hora resolvi me inscrever. Quando comecei a comentar que faria duas provas no mesmo dia, os amigos todos me chamaram de louco e falaram que eu ia me quebrar. Mas como sou movido a esses desafios, só serviu para me motivar mais.
Logo após a Maratona do Rio, senti um pouco o joelho direito, o que me deixou muito preocupado para as próximas provas. Resolvi descansar e não treinei muito, só com meus alunos mesmo, de 6 a 9km de corrida no máximo, natação 2x por semana, spinning e aos sábados Mountauin Bike.
No grande dia, a largada do triathlon seria às 9h e a dos 50km, às 16h. Me preparei mentalmente para segurar no triathlon e não forçar muito. Natação tranquila, mar calmo e sem correnteza. Saí para pedalar bem ainda, pensando em não forçar muito. Mas no XTERRA é impossível não forçar quando se chega nas subidas. Nas primeiras subidas de single trail, os adutores da coxa começaram a reclamar. Continuei bem, mas sentindo um pouco os adutores. No final do pedal comecei a sentir o posterior da coxa, o que começou a me deixar preocupado.
Transição tranquila, coloquei meias secas para evitar bolhas, e parti em ritmo geriátrico para a corrida. No km 4 chegamos no famoso “SUMIDOURO”, o devorador de tênis. Se der mole o tênis fica dentro da lama. Passe bem no cantinho e a coxa deu uma fisgada, era o posterior reclamando novamente. Continuei correndo e sentindo ainda adutores e posterior da coxa. O joelho, que era minha maior preocupação, não incomodou. Logo depois, toma subida e descida. Continuei bem até o final e fechei a prova em 3h42min.
Eram quase 13h e a largada dos 50km seria em três horas. O tempo estava curto. Fui para a pousada preocupado com as dores musculares e pensei até em desistir dos 50km. Mas tomei um dorflex, bebi um R4, tomei um banho quente e fui almoçar. Apenas salada leve, um pouco de arroz com lentilha e coca cola. Minha esposa fez uma massagem e comecei a me sentir melhor. Voltei para o Portobello já eram 15h30.
Encontrei alguns amigos que não acreditaram que eu estaria ali para os 50km. Acredito que não tinham nem 50 pessoas para a corrida. Parti devagar, primeiro km com o pace de 6´10´/km. Colei com um senhor e fomos conversando. Prova fácil até os 12km e aí começaram as subidas. Meu novo amigo, o senhor, ficou para trás. Subi bem, as dores musculares não atrapalharam nada. Quando chegaram as descidas as pernas começaram a reclamar. Tive de descer devagar e toma subida e descida. Estava no km 15 e era a hora do “crepúsculo “. A lua cheia saía por trás do morro tornando o visual uma pintura !!!
Começou a anoitecer, hora de ligar a lanterninha. Cheguei numa estrada de asfalto, passei por alguns barzinhos tocando forró e a galera não entendendo nada vendo pessoas correndo com lanterna na cabeça, meias de compressão, mochilas de hidratação, etc. Segui nessa estrada sozinho, neste ponto não havia nenhum corredor próximo de mim e sabia que a prova seria bem solitária.
A estrada foi subindo bastante até chegar uma entrada na trilha que era uma descida de pedras irregulares muito escorregadias. Dentro dessa trilha não conseguia ver muita coisa pois a mata era fechada e a lua cheia não conseguia iluminar. Segui bem até o km 32, estava até muito confiante até este ponto pois as dores musculares não estavam incomodando mais. Isso até as pirambeiras que vieram logo depois. Mal dava para subir andando. Nas decidas então foi um sufoco e as dores musculares voltaram com tudo.
A partir desde ponto a corrida começou a ficar surreal. A sensação de solidão, a escuridão, os poucos staffs, os poucos pontos de hidratação e os barulhos de animais na mata começaram a me dar um desespero. Segui alternando corrida e caminhada até chegar num lago. A lanterna não iluminava direito e aqui fiquei meio perdido. Tirei a lanterna da cabeça e vi as faixas de orientação do outro lado do lago. Ao entrar na água fria percebi que o lago não era raso. A água veio acima da cintura, atravessei quase nadando até o outro lado e aquela água fria me fez voltar a correr. Não sei se me acordou ou foi o desespero de chegar logo.
Passei pelo km 40 e comecei a ver as luzes do Portobello. Continuei na minha “corriminhada”, passei pelo último posto de hidatração e já escutando as músicas da festa que rolava por lá continuei na caminhada até o km 48, onde voltei a correr e fechar a aventura com 6h58min.
Valeu a pena apesar das dificuldades todas. Na hora terminamos xingando a organização e afirmando que nunca mais faremos aquilo, mas no dia seguinte já estava pensando no ano que vem (rsrsrs).